terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pois,eu também


Boas a todos !


Aqui vai a minha singela homenagem a esta grande senhora.

Deixo-vos pois alguns poemas



Rosa Lobato de Faria


Rosa Lobato de Faria nasceu em Lisboa em Abril de 1932.

Poeta e romancista, o essencial da sua poesia está reunido no volume Poemas Escolhidos e Dispersos, de 1997.

Em 1999, na ASA, publica A Gaveta de Baixo, um longo poema inédito acompanhado por aguarelas do pintor Oliveira Tavares.

O seu primeiro romance, O Pranto de Lúcifer, veio a público em 1995. Seguiram-se-lhe Os Pássaros de Seda (1996), Os Três Casamentos de Camilla S. (1997), Romance de Cordélia (1998), O Prenúncio das Águas (1999, Prémio Máxima de Literatura em 2000) e A Trança de Inês (2001).

Com os seus dois primeiros romances já traduzidos na Alemanha, a autora - hoje uma referência obrigatória na nova ficção portuguesa - viu recentemente o seu romance O Prenúncio das Águas publicado em França, com a prestigiada chancela das Éditions Métailié".


Poemas

de Rosa Lobato Faria


Quem me quiser há-de saber as conchas

a cantiga dos búzios e do mar.

Quem me quiser há-de saber as ondas

e a verde tentação de naufragar.
Quem me quiser há-de saber as fontes,

a laranjeira em flor, a cor do feno,

a saudade lilás que há nos poentes,

o cheiro de maçãs que há no inverno.
Quem me quiser há-de saber a chuva

que põe colares de pérolas nos ombros

há-de saber os beijos e as uvas

há-de saber as asas e os pombos.
Quem me quiser há-de saber os medos

que passam nos abismos infinitos

a nudez clamorosa dos meus dedos

o salmo penitente dos meus gritos.
Quem me quiser há-de saber a espuma

em que sou turbilhão, subitamente

Ou então não saber coisa nenhuma e

embalar-me ao peito, simplesmente.//


Canto do Homem do leme


Sem termos o segredo das baleias

Nem mesmo o voo raso da gaivota

Vencemos o feitiço das sereias

Fizemos da esperança a nossa rota


Tivemos medo,fome e ventania

Morremos de escorbuto e de saudade

Achamos neste cheiro a maresia

A magia da nossa eternidade


E mesmo quando a sombra de um gigante

Amotinou o mar medonhamente

Levados por um sonho delirante

Seguimos nosso rumo sempre em frente


Voltamos perfumados de canela

Rosas de vento presas no cabelo

Ou a boiar à ré das caravelas

Ficamos sob a luz do serestrelo


Os capitaes os nobres ou sob'ranos

Puderam sob o mundo erguer a voz

Mas quem rasgou o corpo aos Oceanos

Foi a grei porque os Gamas somos nos.//


Lisboa a namorar


Corteza das minhas noites

Donzela do sol a pino

Miuda a pedir açoites

Mulher do meu desatino

Menina das Amoreiras

Peixeira da beira-mar

Todas sâo namoradeiras

é Lisboa a namorar!


Ai Lisboa quem pudesse

Ser a proa da fragata

Que rompe quando anoitece

o teu vestido de prata

afagar com dedos brandos

Como beijos às marés

Tua boca de morangos

Vendida no Cais ' Sodré


A primeira mostra o peito

A segunda a roupa branca

A terceira é sem defeito

A quarta rebola a anca

é Lisboa em todas elas

A mostrar em cada uma

As rendinhas amarelas

Do seu saiote de espuma.//




Si je meurs un matin,

Ouvre la fenêtre doucement

Et regarde avec passion ce jour que je n'aurai plus.

Ne me pleure pas. Je ne serai pas triste.

Avoir eu la nuit est plus que je ne le mérite

Car je ne connais même pas celle d'où je viens.

Laisse entrer un peu d'air dans la maison

Et un morceau de ciel,

Le seul que je connaisse.

Peut-être qu'un oiseau me prendra sous son aile.

Ne pas savoir voler

Fut toujours ma loi.

Ne cherche pas mon haleine sur le miroir.

Ne chuchote pas mon nom, je ne viendrai pas

Et du mystère, rien, je ne te soufflerai.

Dis que je ne suis pas là, si l'on frappe à la porte.

Laisse-moi jouer mon rôle de morte.

Ne plus être, est de la mort, tout ce que je sais. //

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